Os irmãos que empoderam as identidades queer

Cultura

"Sê tu próprio para criares uma ligação com os outros" – Georgia e Joel Palmer, profissionais multifacetados, Londres.

Última atualização: 12 de agosto de 2021
Leitura de 7 min

Juntem-se: estamos distanciados, mas nunca desconectados. Falámos com o elenco
do nosso catálogo da época festiva de 2020 sobre o que significa a palavra "união" atualmente.

"Uma vez que sou de origem multirracial e homossexual, não tinha muitos exemplos com os quais me identificava quando era mais jovem", refere Joel, de 28 anos. Agora, juntamente com a Georgia, a sua irmã de 20 anos de idade, o Joel está a ajudar a construir uma comunidade queer criativa para abrir espaço e oportunidades para os outros. "Encaramos a nossa plataforma como um espaço para inspirar as pessoas. Através do nosso estilo e da nossa estética, desafiamos sempre os limites do não-conformismo e do género."

Ambos cresceram em Birmingham antes de se mudarem para o sul de Londres, onde encontraram uma comunidade queer que incentivava e celebrava a sua individualidade. A Georgia seguiu o seu irmão na carreira de modelo, uma profissão que foi um ponto de partida para explorar a representação e a música. O Joel é também diretor criativo e co-fundador da empresa de consultoria de moda e mobilidade Major Zcene.

O Joel e a Georgia têm passado a quarentena juntos num armazém, juntamente com outros criativos, com os quais colaboram em projetos de trabalho. Durante as suas iniciativas, ambos rodeiam-se de pessoas de cor queer, incentivando-as.

"Criámos um círculo sólido de pessoas à nossa volta que são consideradas minorias na indústria, as quais podemos ajudar a promover", afirma a Georgia. "Quero conseguir projetar as vozes das pessoas".

"A união faz a força, certo?", acrescenta o Joel. "Juntos temos mais visibilidade".

"Os criativos queer são uma minoria, pelo que é isso que nos une. Mas todos temos a nossa própria personalidade e é aí que entra o poder."

Joel

Vocês partilham muito mais experiências do que a maioria dos irmãos e irmãs. São ambos modelos e colaboram juntos. Que força encontram um no outro para continuarem a fazer o que fazem?

Joel:
Acho que eu e a Georgia exploramos os nossos talentos em conjunto e depois pomo-los em prática no nosso trabalho. A Georgia é, sem dúvida, uma das minhas musas. Isto dá-nos espaço para progredirmos em conjunto de muitas formas distintas e para nos incentivarmos mutuamente em vários aspetos diferentes. Por exemplo, a Georgia está a enveredar pela representação, não é?

Georgia: Sim. Estou a experimentar a representação e passar música como DJ.

Joel: Ela tem uma curta-metragem empolgante prestes a estrear. Acho que temos sido a janela um do outro para um novo mundo. A nossa força juntos é definitivamente algo que têm de ver em ação. Ver a Georgia a trabalhar como modelo é como observar uma obra de arte.

Georgia: O meu estilo de movimento foi inspirado em ti.

Parece que a dança, a música e o estilo influenciaram o vosso trabalho, assim como as vossas identidades e autoexpressão. Podem falar um pouco sobre isso?

Joel:
A nossa colaboração é íntima e forte porque desenvolvemos este estilo de movimento específico enquanto família. Eu tive muita formação em dança quando era mais jovem e, no que se refere ao estilo, gostamos de trocar a roupa. Temos este look tipo Black Panther, punk e afro-punk. É uma abordagem criativa a várias coisas diferentes e, por vezes, é definitivamente ousada.

Georgia: Depende muito da personagem que queres ser nesse dia. A vida noturna de Londres é onde toda a nossa comunidade se encontrou: um grupo de pessoas totalmente artísticas e criativas de todos os sexos, géneros, sexualidade, tudo. [A discoteca é] para nós um espaço seguro e como socializamos. Uma coisa pela qual todos nós estamos gratos e que temos em comum é esse amor pela música, a dança, o movimento, a moda e o estilo.

Ambos se identificam também como queer, acrescentando outra dimensão à vossa relação e ao vosso percurso enquanto criativos de cor. O que significa queer para vocês?

Georgia:
Eu identifico-me como queer porque estou inserida na comunidade queer. É tudo o que conheço. Os meus amigos são queer, a linguagem que falo é queer e as pessoas que defendo são queer.

Joel: Para mim, queer é uma mentalidade de pensamento livre. Ser queer não significa necessariamente que tens de te sentir atraído pelo mesmo sexo. Vivemos numa altura em que cada artista, talento e modelo, devido também às redes sociais, podem ser eles próprios e extravagantes.

Georgia: Sim. Sinto-me bastante confiante em estar em sintonia com o meu corpo e sinto que sou capaz de comover, ser abstrata e desempenhar diferentes personagens. Estou constantemente a aprender coisas novas sobre mim mesma.

Joel: Não temos sido modelos convencionais. Assumi-me abertamente como queer e não ia mudar isso por ninguém. Por isso, tivemos de nos incentivar mutuamente, relembrarmo-nos um ao outro de que estamos a fazer isto para inspirar outras pessoas mais jovens do que nós. Se nós conseguimos, também consegues. Foi isso que me levou a ser diretor criativo e não apenas modelo. Posso criar mundos e espaços para as pessoas sentirem que fazem parte e não são apenas o rosto. Podemos fazer mais do que isso. Podemos realmente criar oportunidades.

Os irmãos Joel e Georgia Palmer e a sua comunidade criativa queer

Georgia (esquerda), Joel (direita)

"A Georgia é, sem dúvida, uma das minhas musas. Vê-la a trabalhar como modelo é como observar uma obra de arte."

Joel

Ambos participaram nos protestos Black Lives Matter em Londres. O que aprenderam sobre vocês próprios nesse sentido e como é que isso vos afetou a nível pessoal e criativo?

Joel:
Uma coisa que percebemos nas marchas é que temos ligações para espalhar a informação. Vimos formas de projetar para o mundo que isto está realmente a acontecer e também é um espaço seguro. Todo este movimento foi muito interessante porque alguns elementos da nossa família não nos apoiaram nesse aspeto. Foi interessante saber que existia racismo sistemático dentro da nossa família. Foi muito triste afastarmo-nos deles.

Queríamos fazer um teste para descobrir a nossa herança a um nível mais profundo. Durante toda a nossa vida foi-nos dito que somos parte jamaicanos, parte ingleses, mas há muito mais. Descobrimos que [também temos raízes na] América do Sul, Ásia, Congo e Benim.

Georgia: Mas o movimento aproximou-nos e é um assunto sobre o qual deveríamos ter falado antes.

O que significa poder coletivo para vocês, especialmente enquanto pessoas de cor e parte da comunidade queer?

Joel:
O nosso grupo é uma comunidade de indivíduos que pensam da mesma forma e de pensadores livres. Os criativos queer são uma minoria, pelo que é isso que nos une. Contudo, todos temos a nossa própria personalidade e é aí que entra o poder.

Só encontramos verdadeiramente a inspiração dentro do nosso próprio círculo de pessoas. Inspiramo-nos uns aos outros. Depois, quando outra pessoa entra no nosso círculo, sentimos: "Uau, és uma verdadeira estrela, à tua própria maneira."

Como é que se desafiaram uns aos outros neste momento revolucionário e de reflexão, e em que medida é que o vosso processo criativo teve de mudar?

Joel:
Experimentámos a animação, 3D e digital, simplesmente para brincar com quem vivemos. Vivemos num armazém com um espaço fantástico juntamente com designers, fotógrafos e cenógrafos. Tínhamos tantas saudades das discotecas que montávamos os decks aos fins de semana e convidávamos os vizinhos.

Georgia: Tivemos um tempo para sermos introspetivos e criativos. Tivemos muita sorte em ter o espaço ideal para o fazer.

Joel: Agora temos mais motivação para nos esforçarmos no nosso trabalho e em tudo o que fazemos. Foi isso que nos uniu durante este período.

Por último, que outras causas defendem com a mesma paixão e proatividade?

Georgia:
Tudo o que tenha a ver com inclusão, diversidade e promover as minorias. Tenho muitas mulheres trans e negras à minha volta e vejo modelos de tamanhos grandes que não são incluídas nas sessões fotográficas. Quero criar este espaço criativo onde podemos discutir os altos e baixos da carreira e criar mais consciência.

Joel: Definitivamente, os direitos trans. Temos de ter um apreço total pela nossa comunidade trans. Ela é a única razão pela qual as comunidades queer e gay ainda existem. Sinto que a nossa própria jornada pessoal, aquilo sobre o que falávamos quando éramos muito jovens, se baseava em utilizar a nossa plataforma para ganhar experiência, dinheiro e abundância suficientes para retribuir a todas as coisas pelas quais estamos a lutar.

"Temos de ter um apreço total pela nossa comunidade trans. Ela é a única razão pela qual as comunidades queer e gay ainda existem."

Joel

Os irmãos Joel e Georgia Palmer e a sua comunidade criativa queer

Escrito em: julho de 2020

Os irmãos Joel e Georgia Palmer e a sua comunidade criativa queer
Os irmãos Joel e Georgia Palmer e a sua comunidade criativa queer

Georgia (esquerda), Joel (direita)

Data de publicação original: 13 de junho de 2021

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